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quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Ter um filho: Um conto de fadas?

   Cuidar de uma relação a 2 já é dificil, quando passamos a 3 o desafio torna-se exponencialmente maior e a dificuldade aumenta, em proporção, com cada novo membro da familia que surge...

Claro que ter um filho é uma alegria muito grande, se não a maior de todas (para mim foi!), mas enganam-se os futuros pais que vêem a chegada de um filho envolvida em nuvens e borboletas cor de rosa ou azul-bebé!

A chegada de um filho é, antes de mais, testar os nossos limites todos a um máximo que nem achávamos humanamente possível, amor, paciência, resistência, loucura, compreensão, saturação, loucura, empatia, amor, paciência, resistência,brincadeira, felicidade, fúria, loucura, amor, paciência, frustração, resistência, impotência, (e não, não repeti alguns por mero acaso, ou lapso, amor, paciência, resistência e loucura são de facto os limites que testamos mais)...

Antes de tudo ganhamos uma identidade nova, deixamos de ser a Maria Joaquina e o António Manuel para sermos a mãe ou o pai do Joaquim Bernardo, essa nova identidade subtilmente (como um elefante obeso, amarelo às pintas rosa choque) e sobretudo durante os primeiros tempos, atropela, amassa, esfrangalha e esventra a nossa identidade antiga, isto significa que tudo aquilo que éramos parece que desaparece, ou fica debaixo de um tapete enorme de arraiolos com a palavra "bebé" bordado em todas as cores (e sim, isto vivido na pele é bem mais avassalador do que parece!)...

Depois aprendemos a lidar com sentimentos de culpa a toda a hora:
-Apetecia-me tanto tomar um banho de imersão e ficar a relaxar durante 2h... (Ai que má mãe que eu sou, tenho é de estar com o meu bebé, que amo loucamente, e deixar-me destes pensamentos egoistas...)

-Apetece-me ouvir Pink Floyd no carro e cantar o Shine on your crazy diamonds!!! (Coitadinha da Joaninha que já está a olhar para mim e quer tanto ouvir pela enésima vez "Abram alas para o Noddy" e eu que já não posso com aquela merda disse-lhe que deixei o Cd em casa, menti-lhe descaradamente, sou mesmo a pior pessoa do mundo)

-Apetece-me fazer abdominais, ir correr, saltar à corda, tratar do meu corpo e de mim um bocadinho! (Já ontem não fui com o Ricardinho aos baloiços, hoje também já me estou a tentar cortar outra vez, que raio de infancia vou dar ao meu filho??? quero ser uma mãe boa, ou uma boa mãe?)

-Apetece-me vestir aquele corpete que tenho abandonado na gaveta, meter uma musica sensual, meter uns morangos a jeito e dar uma esfrega no António Manuel que anda a reclamar há um mês que já não lhe ligo como antes, hummmm!!!! (Mas meto a Patricinha na casa dos avós? Que raio de pais somos nós que despachamos a nossa bebé para dar quecas?? Espero que ela adormeça??? E se acorda a meio da festarola porque teve um pesadelo, como da outra vez e nem tenho tempo de meter a porra de um morango na boca? E se ela vem ter connosco à sala, agora que já sai da cama, e vê a mãe armada em bailarina exotica??? E a que horas é que eu me deito com isto tudo????)

Depois aprendemos que não podemos deixar para amanhã o que temos para fazer agora, porque acumula tudo e nada melhora...
Temos que partilhar as tarefas e nem sempre é facil, porque há dias que estamos tão mortos que só nos apetece que o outro faça tudo, mas o outro também está desejoso de ouvir:
"Fica aí no sofá, meu amor, que eu dou-lhe banho, faço o jantar, meto a mesa, dou-lhe jantar, dou-te jantar, arrumo a cozinha, meto-a a dormir, levo-te ao colo para a cama também a ti, levanto-me de todas as vezes que ela/e acordar e tu podes dormir tranquilo e feliz!"
Claro que isto nunca vai acontecer!!!

Em vez disto é mais:
-Faz o jantar, não vês que eu estou a dar-lhe banho, queres comer outra vez as 10h da noite???
-Traz-me uma fralda que as que estavam aqui já acabaram, estás a ver as noticias, estas a gozar certo???
-Vá, vai já lavar-lhe os dentes enquanto eu meto a louça na maquina que ele/a já está cheio de sono e depois fica rabujento e já nem quer dormir!

E o conto de fadas acaba com dois adultos de trombas e um bebé feliz a dormir tranquilo, a sorte é que o cansaço é tão grande para os adultos, que normalmente deitam-se e  esquecem as trombas porque até estar zangado consome mais energia do que dispomos naquele momento!

E pois, claro que temos que tentar namorar na mesma, cultivar o romance, cuidar da relação que já existia antes da chegada do bebé, mas do saber que se tem de, ao conseguir faze-lo vai um longooooooooooo e tortuoso percurso que se revela mais dificil de dia para dia! O pior é que há sempre aqueles casais que parecem perfeitos (mas se calhar quase que se matam em casa) a opinar e a dizer que eles namoram muito à mesma, que o Martim é felicissimo a dormir em casa dos avós todas as sextas feiras, que a Mariazinha dorme que nem uma pedra e até fazem swing na sala  com mais 3 casais amigos,que ela não dá por nada... Meus queridos a nossa vida muda, é um facto, temos de aceita-lo e pronto, não se iludam, nem invejem estes amigos (risquem-lhes o carro com uma chave de fendas e pronto!)...

Ou seja um filho não é nunca uma forma de reforçar uma relação, um filho testa é a resistência dessa relação até aos limites do impensável!

Mas uma coisa é certa, quando se ultrapassam as barreiras, as paredes tremem mas não cedem, os alicerces resistem a sismos, intempéries, roedores, pragas de formigas, térmitas, gafanhotos e pirilampos mágicos, descobrimos que a partilha pode ser uma coisa maravilhosa e as equipas que vencem nascem do esforço comum!
 E sim, vale a pena, porque os nossos filhos enriquecem a nossa vida constantemente e um sorriso, um beijinho babado ou um xi-coração compensam tudo!

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